Mercados e tecnologias explicam as safras agrícolas. As safras agrícolas brasileiras experimentam ganhos substantivos de produção e produtividade nos últimos 45 anos e refletem, numa longa série histórica, quatro forças associadas e sinérgicas que deverão continuar tracionando a agricultura brasileira; mercadosinovações tecnológicas geradas nos centros de pesquisa, sustentabilidade, bem como as estratégias de difusão de inovações sistemáticas para subsidiarem a tomada de decisão dos produtores familiares, médios e grandes empresários rurais, que desenvolvem esforços produtivos nas culturas e criações, e na preservação e conservação dos recursos naturais.

Pode-se presumir também que o perfil do agro brasileiro será fundamentado basicamente pelas preferências dos milhões e milhões de consumidores urbanos quanto aos alimentos, novas formas de processamento, distribuição, consumo e origens das ofertas. Seria como passar um apagador no passado e ganhos da agropecuária no Brasil?

Evidentemente que não, pois os processos de mudanças são complexos, multifatoriais, geograficamente dispersos, demandam tempos e abordagens diferentes nas regiões e países envolvendo as políticas públicas e condicionantes econômicas, ambientais, políticas, estruturais, logísticas, tecnológicas; entretanto, o bem estar-social no campo depende da RENDA de quem planta e cria. Essa é a lógica!

Portanto, a exigirem, em todos seus níveis, um complexo e dinâmico sistema de comunicação eficiente, repita-se, compartilhado entre todos os atores envolvidos e agentes focados nas mudanças e inovações propostas do campo à mesa do consumidor. Ora, nessa breve reflexão, os ambientes nos quais vivemos hoje resultam de séculos e séculos de mudanças e recorrentes adaptações em todas as áreas dos conhecimentos para atender à sociedade!

E mais, a Ciência, através do método científico nos ensina a compreender, formular hipóteses, testar, avaliar e atuar nos processos de integração de conhecimentos e práticas, e sejam eles quais forem num presumível e ilimitado mundo de diferentes probabilidades. Contudo, poder-se-iam reconhecer que a percepção, talento, habilidade, e curiosidade humanas são essenciais às boas práticas, e aos avanços da Ciência & Tecnologia; e regular assistência técnica universalizada no campo.

Nesse caminhar pelo agronegócio, o  Levantamento da Companhia Brasileira de Abastecimento (Conab), janeiro de 2021, detalha o seguinte; estimativa de 264,8 milhões de toneladas de grãos, safra 2020/2021, contra 256,9 milhões em 2020, assim distribuídas; Norte, 11,5 milhões de toneladas; Nordeste, 22,4 milhões; Centro-Oeste; 123,4 milhões; Sudeste, 25,9 milhões; e Sul, 81,4 milhões de toneladas. A região Sudeste responderia por 9,7% da safra total de grãos prevista de 264,8 milhões em 2020/2021.

O Estado do Amazonas (1,57 milhão de km2) apresenta uma estimativa de oferta de apenas 41,2 mil toneladas de grãos (0,0155% do total Brasil) em 17,1 mil hectares cultivados. Vale assinalar também que Rondônia (com 237,5 mil km2), 1º lugar na região Norte, com apenas 626,2 mil hectares cultivados prevê uma safra de grãos estimada em 2,4 milhões de toneladas de grãos em 2020/2021, 0,9% do total Brasil; portanto, configuram uma diluída pressão agrícola sobre os recursos naturais naquelas paragens! Medir para avaliar! A tecnologia adotada poupa terras!

Segundo o Censo Demográfico de 2010 consolidado, à época, as populações residentes nessas regiões eram as seguintes; Norte, 15,7 milhões de habitantes; Nordeste, 53,4 milhões; Centro-Oeste; 13,9 milhões; Sudeste, 80,2 milhões; e Sul, com 27,3 milhões de habitantes, sendo que deverá haver um novo Censo Demográfico em 2021 (IBGE). Já em 2010, o Nordeste abrigava o  maior contingente populacional residente do Brasil, depois do Sudeste!

O que revelam as estimativas demográficas mais recentes para as populações residentes por regiões e projetadas pelo IBGE na data base de 1º de Junho de 2020, e válidas para o final de 2020; Norte, 18,6 milhões de habitantes; Nordeste, 57,3 milhões; Centro-Oeste, 16,5 milhões; Sudeste, 89,0 milhões, e Sul, com 30,1 milhões de habitantes. A população mineira estimada seria de 21,2 milhões de habitantes em 2020 contra 19,5 milhões em 2010, um crescimento de 1,7 milhão de habitantes.

Assim, os dados demográficos consolidariam novamente o predomínio populacional do Nordeste + Sudeste com, respectivamente, 57,3 milhões de habitantes e o Sudeste, 89,0 milhões de habitantes; somando 146,3 milhões ou 69,1% do total de 211,7 milhões de brasileiros residentes havidos em 2020; o Nordeste teria ainda 27% do total da população brasileira/consumidores, o que não é pouco!

Em 2019 (IBGE), a região Sudeste, que engloba Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo foi responsável por 55,2% do PIB brasileiro, e ostentava o maior PIB per capita, entre as regiões brasileiras, no valor de R$ 28,35 mil; e mais, em 2019 o PIB do Estado de São Paulo foi de R$ 2,38 trilhões, a preços correntes, ou 32,1% do PIB brasileiro.

Embora sendo uma comparação não muito detalhada, entretanto, esses e outros cenários permitem cruzar dezenas de dados demográficos com o crescimento das demandas populacionais, entre outras; relacionadas com as ofertas de produtos agrícolas, frutícolas, olerícolas, pecuários, florestais, fibras, energia limpa, orgânicos e agro ecológicos.

Revelam também as ofertas regionais estimadas de grãos produzidos nessas regiões, e confrontando-as com suas respectivas populações e potenciais mercados regionais para abastecimento e consumo de alimentos in natura e processados.

Assim posto, conciliando estimativa populacional de 2020 e oferta de grãos estimada na safra 2020/2021, com base no 4º Levantamento da Conab, são esses os cenários; Norte; 18,6 milhões de habitantes e oferta de 11,5 milhões de toneladas de grãos; Nordeste, 57,3 milhões de habitantes e 22,4 milhões de toneladas de grãos.

No Centro-Oeste, 16,5 milhões de habitantes e 123,4 milhões de toneladas de grãos; Sudeste, 89,0 milhões de habitantes e 25,9 milhões de toneladas de grãos; sendo 61,8% devidos à safra mineira; e Sul, com 30,1 milhões de habitantes, e 81,4 milhões de toneladas de grãos. A população estimada do Sudeste brasileiro em 2020 é de 89,0 milhões de habitantes; e da Argentina, 45,4 milhões de habitantes, quase o dobro nessa comparação.

Além disso, embora esses cálculos não sejam exatos, a safra 2020/2021 estimada em 264,8 milhões de toneladas de grãos ofereceria uma disponibilidade de grãos per capita de 1.250 kg/ano, em nível nacional, contra apenas 390,9 kg/ano no Nordeste brasileiro, isoladamente, o que não deve subestimar a envergadura do comércio de grãos usando a malha interna de transportes de mercadorias.

Noutro cenário regional, (Mercados e tecnologias explicam as safras agrícolas) a safra prevista de 25,9 milhões de toneladas de grãos para a região Sudeste, tomada isoladamente, daria a disponibilidade de grãos de 291 kg/habitante/ano; o poder aquisitivo no Sudeste aquece a demanda por alimentos, tecnologias, produtos e serviços; no Brasil, 90% das safras de grãos dependem diretamente da distribuição regular das chuvas!

Se o critério não foi modificado, a FAO recomenda, como segurança alimentar, a disponibilidade de 500 kg a 1.000 kg de grãos per capita/ano.  Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) afirmam que o crescimento das safras de grãos, cereais e oleaginosas brasileiro se afigura indispensável, em nível internacional, para assegurar também as exportações agrícolas destinadas ao continente asiático.

Em 2017, a OCDE, composta por 37 países, representava coletivamente 62% do PIB nominal global ou US$ 49,6 trilhões, ou ainda 42,8% do PIB global ou US$ 54,2 trilhões de dólares internacionais (FMI); os países membros reuniam uma população total de 1,3 bilhão de habitantes.

Tomando poucos exemplos numa longa série de safras de grãos no Brasil, os desempenhos foram os seguintes; 1977, 46,9 milhões de toneladas de grãos; 1980, 50,8 milhões; 1990, 58,2 milhões; 2000, 83,0 milhões; 2010, 148,9 milhões; 2020, 256,9 milhões; com estimativa de 264,8 milhões de toneladas de grãos em 2020/21 (Conab).

Comparando a safra de 1980 com a estimativa de 2020/21, a oferta de grãos poderá crescer 421,3%. O Brasil tinha 119 milhões de habitantes em 1980 e estimativa de211,7milhõesem 2020, portanto, deverá evoluir em 77,9% o número de habitantes contra um aumento de 421,3% na oferta de grãos, portanto, mais de cinco vezes o aumento populacional. Segurança alimentar para o abastecimento interno, e excedentes exportáveis traduzidos em dólares!

A capacidade geral de armazenagem no Brasil é de 175,5 milhões de toneladas; e nos EUA, somente em níveis de fazendas, soma um total de 342,6 milhões de toneladas de grãos (IBGE/USDA/2020 https://www.ibge.gov.br/). Em 1889, os EUA tinham 250 mil km de ferrovias, sendo 20% com menos de quatro anos de uso (Richard White /Stanford University/2011), contra apenas 30 mil km de ferrovias brasileiras em 2017. Uma diferença considerável em comparação ao território brasileiro, com seus 851,6 milhões de hectares.

Assim posto, esses e outros cenários (Mercados e tecnologias explicam as safras agrícolas) dinâmicos do agro brasileiro estimulam e demandam centenas e centenas de abordagens, bem como incluindo a presumível e crescente tendência de concentração das safras brasileiras, que somente na região do Centro-Oeste (MT + MS + GO + DF) abrange 46,6% da safra de grãos, cereais e oleaginosas estimada em 264,8 milhões de toneladas em 2020/2021.

Contudo, as exigências por novas pesquisas acessíveis continuam estratégicas e indispensáveis nos sistemas agroalimentares e agroflorestais, recursos naturais, e abrangendo também a adoção de tecnologias inovadoras embarcadas nas máquinas e equipamentos agrícolas, sistemas de embalagens, plataformas digitais ligadas ao agronegócio, mudanças climáticas, e outras centenas de exigências numa objetiva, compartilhada e presumível “Agenda do Século XXI para o Agronegócio Brasileiro.”

Contudo,o futuro de longo prazo continuará sendo uma substantiva hipótese! Quem poderia prever a dimensão dessa pandemia virótica em pleno início do Século XXI?

Entre janeiro e outubro de 2020, comparado com o mesmo período de 2019, o PIB do agronegócio brasileiro cresceu 16,8% ou R$ 274 bilhões, a preços correntes (Cepea/USP). O agronegócio continua sendo um estratégico ponto fora da curva da pendular economia brasileira.

Mercados e tecnologias explicam as safras agrícolas por Engenheiro agrônomo Benjamin Salles Duarte.